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REENCARNAÇÃO EM FOCO

 

Sander Salles Leite

sander.salles1944@gmail.com

São Paulo, 1997

 

         Um dia, à mesa do café da manhã, o jovem marido se preparava para mais um dia de trabalho, quando sua esposa, lhe pergunta:

            —Em que você pensa? Seu olhar está parado, distante...

            Como se acordasse novamente, respondeu:

            —Estranho, muito estranho. Esta noite tive um sonho muito estranho. Sonhei que estava conversando com um feto.

            —Que horror! disse ela!  Isto não é um sonho. É um pesadelo.

            E continuou ele:

          —Na verdade, estávamos discutindo, discutindo. Não consigo lembrar-me sobre o quê, mas discutíamos. A “coisa”, embora no sonho se apresentava como um feto, não era feia, apenas não tinha forma definida e estava à um canto da parede. Confesso que me senti angustiado, triste. Até acordei um pouco assustado, tentando entender, mas tornei por dormir novamente.

             Alguns dias se passaram.

             Em retornado do trabalho, a jovem esposa lhe dá a notícia, muito feliz. Estava grávida, o resultado dera positivo.

          Neste instante, ele sentiu-se envolvido como que por uma nuvem pesada e uma angústia muito forte apertou seu coração. Sem saber por que, lembrou-se do sonho. Lembrou-se daquela angústia estranha e comentou: “é ele, eu sei. É ele. Está de volta e veio nos cobrar”

           Por coincidência, aquela noite era a mesma da semana em que a família se reunia para realizar seu Evangelho no Lar.

            Após longas reflexões sobre o assunto, pedindo aos bons companheiros da espiritualidade que lhes sugerissem uma explicação, entenderam a mensagem do sonho. Estava-lhes reservado o compromisso de receber em seu lar como filho, alguém que tivera sido outrora vitimado por um aborto. Não souberam se eles teriam sido os responsáveis ou não, mas tinham a certeza do compromisso assumido com a aquele espírito. A Reencarnação seria a sublime oportunidade para o reencarnante e para a família; pelo sonho, anteviram que seria do sexo masculino; pela circunstância, talvez um espírito que viria com dificuldades, talvez rebelde, talvez doente, talvez qualquer coisa...

             Então, para encerrar o Evangelho, pediram forças para que todos pudessem se sair bem dessa prova.

         Ao fim da expectativa, depois de nove meses, enfim, nasce um robusto menino. Cresce travesso. Aliás, a primeira palmada que levou foi do médico, pois demorou para chorar.

           Frequentou as aulas da Evangelização, Mocidade Espírita, entremeadas por diversas chamadas aos pais por parte da Diretoria das escolas que freqüentava por indisciplina e coisas tais.

            Não foi difícil o contato com as drogas e suas conseqüências familiares e sociais.

            Uma internação do jovem em instituição adequada, uma curta recuperação e várias recaídas.

            Desconheço o final da estória porque ela é real e ainda não terminou. Os personagens existem e têm nomes. Mas até este ponto, podemos com absoluta segurança, entender que a reencarnação é um processo de reeducação.

             Por milhares de anos passamos por este processo, e não sabíamos.

            Não entendíamos porquê as diferenças sociais, de comportamento, saúde, doenças.

           Esta estória, gentilmente e sutilmente revelada pela espiritualidade, permitiu que se antevisse as prováveis fases de uma reencarnação e, principalmente entendê-la, trabalhar com ela e aprender com ela.

          A Doutrina Espírita se nos apresenta gloriosa, revelando-nos a cada instante os segredos de nossa existência: Onde estamos, o que fazemos aqui e para onde vamos.

        Há 140 anos Allan Kardec presenteava o mundo com o Livro dos Espíritos, traduzindo para nós a linguagem dos Espíritos, ensinando-nos que a vida não termina com a morte do corpo físico. Que a vida não termina nunca, pois é eterna. Que nascemos, morremos, renascemos novamente, sucessivamente aprendendo a caminhar em direção ao infinito, para a condição de Puros Espíritos.

            Assim a Doutrina se propaga.

           Por exemplos, tais como o do sonho, objetos que se movem, vidência, etc, a curiosidade  levou o homem a identificar os fenômenos. A observação incentivou as pesquisas e confirmação da veracidade dos fenômenos, permitindo a Kardec enunciar o princípio que afirma haver uma causa inteligente por detrás de efeitos inteligentes.

       As famosas mesas girantes, objeto dos estudos iniciais de Kardec, respondiam perguntas por sinais previamente convencionados. E mesas não têm cérebro, diziam com certeza ele e seus amigos estudiosos. A causa inteligente era o Espírito, que informou que já vivera antes, que já nascera outras vezes, morrera outras vezes...

        A terceira etapa certamente é  a admissão da Doutrina Espírita pela sociedade, devendo ocupar seu lugar entre as ciências oficiais, um dia.

          E porque não há como negar a influência sobre a ordem social estando aí o grande papel do Centro Espírita a divulgar os postulados espíritas, falando a todos os que o procuram sobre as leis que regem nossa vida, lei de causa e efeito, o livre arbítrio, resgate de nosso passado através das encarnações sucessivas como processo evolutivo.

         Reencarnando muitas vezes, encontrando com espíritos com os quais caminhamos em outras vidas, ora errando, ora acertando, tantas vezes quantas forem necessárias até chegarmos à perfeição, próximo de Deus, e estarmos em condições de assumir compromissos,  tais quais os de Jesus. E isto faremos em Planetas que estejam como estava a Terra há dois mil anos.

         Afinal, quais as razões que nos trazem ao Centro Espírita? Será apenas para receber o “passe”, ouvir explanações sobre o Evangelho, receber espíritos nas reuniões mediúnicas?, ou talvez uma palestra no domingo à tarde?

          O Passe, o Evangelho e outras ofertas do Centro Espírita são ferramentas disponíveis para atender às reais razões que nos trazem ao centro espírita e, entre elas, estão o filho viciado em drogas, a filha rebelde, o marido bêbado, a esposa doente, doenças não identificáveis pela medicina. E nos encontramos entre companheiros amáveis, compreensíveis, dispostos a nos ouvir e indicar as portas que o Espiritismo oferece para reconhecer, identificar e administrar as dificuldades de nossa jornada terrena. Não falamos em resolver problemas.

          O Centro Espírita não resolve problemas, mas situa-nos como seres reencarnantes que somos e trazemos em nossa bagagem o nosso momento, a nossa história, os compromissos com aqueles com quem convivemos.

Interessante é, pois, o mecanismo do reencontro.

         Desconhecido dos homens, esse mecanismo que faz com que os espíritos se reencontrem na Terra. Que mistério é esse? Como acontece?

          Grosseiramente, é como se fôssemos um ímã cuja atração esteja dirigida para o nosso par. É uma lei natural que vale para toda a humanidade, para todos os espíritos e grupos de espíritos.

        Supondo estarmos em condições de discutir e escolher as linhas gerais de nossa reencarnação, no plano espiritual, juntamente com os nossos amigos e mentores, planejamos, combinamos, acertamos situações que nos sejam favoráveis para a experiência que nos propomos, juntamente com aqueles com quem temos compromissos. Débitos ou créditos.

        O véu do esquecimento nos embaça a visão do passado, porém, como um “instinto” a nos guiar, vamos trilhando nossos passos.

            O livre-arbítrio, elemento de fundamental importância sobre nosso fracasso ou sucesso nos empurra para a frente.

        Obstáculos se nos apresentam, de várias formas, quais sejam as atividades sociais, profissionais, financeiras, e, no momento oportuno, o “outro” ou a “outra” nossa compromissada aparece em nosso caminho, guiados pela tal lei que parece um ímã.

            Momento de decisão. Hora da escolha. Hora do reencontro marcado pelas leis imutáveis.

        Um “sim” ou um “não” poderá alterar nosso planejamento reencarnacionista, mas não há uma receita prática para acertar. Sob essa ótica, parece aterrador o peso da dúvida.

         Porém, quando nossa vida é pautada por bons atos, retidão, sobriedade, equilíbrio, honestidade, sinceridade, enfim, tudo o que a nossa consciência diz que é certo, que a nossa Doutrina prega pelos exemplos morais de Jesus, então, não há o que temer. Simplesmente acontece.

      E será através desses encontros (reencontros), que a humanidade se constrói, se eleva, edificando os lares e fortificando os laços de família.

      No seio familiar, com todos esse esquema invisível, muita vez incompreensível para nós, é que os espíritos se encontram (reencontram). Cada um com sua individualidade, sua bagagem espiritual construída através dos séculos, seus débitos e seus créditos.

          Convergem para constituírem um núcleo familiar e crescerem espiritualmente, cada um com seus próprios esforços, orientados inicialmente pelos pais e depois caminhando por si mesmo.

           Aprendem o significado da liberdade com responsabilidade, até chegar a sua vez de construir sua própria família.

          Mas nesse grupo de espíritos que reencarna juntos, também existe os fracassos aparentes. É quando em uma mesma família, por exemplo, constituída de cinco filhos, todos com a mesma orientação religiosa, mesmo princípios morais, um dos membros se desgarra, por não ter suportado a prova e uma batalha tem início. A da recuperação, como no caso da história do início.

         Esta é prova que não tínhamos conhecimento. A história que não queríamos para nossa família, porque comumente achamos que coisas ruins só acontecem na casa do vizinho.

      São estes momentos de nossas vidas, os tais reservados para o nosso testemunho de humildade, compreensão, tolerância, respeito por aqueles que passam por essas dificuldades.

         É a oportunidade de reavaliarmos o nosso entendimento sobre justiça e amor. Chegaremos à conclusão que temos um amor míope e um sentimento de justiça míope.

       Amamos, possessivamente. Impedimos o crescimento de nossos filhos atrelando-os às nossas crenças e conceitos prévios. Amor míope, porque não é universal. É individualista.

       Se perguntarmos a opinião de alguém sobre o que fazer com um assaltante, traficante e assassino, surpreendido e flagrante, talvez a resposta seja imediata: cadeia. Porém, se logo em seguida perguntarmos: e se for o seu filho?, com certeza haverá alguma hesitação na resposta. É a miopia de nosso julgamento sobre a justiça (que só vale para o vizinho) e do tamanho de nosso amor, que só alcança aquele que nos “pertence”.

        O Espiritismo bem estudado, meditado e analisado nos oferece um amplo horizonte com propostas de alteração de nosso comportamento e de nossos hábitos. Aquela mudança tão necessária que faz renascer dentro de nós um novo homem, verdadeiramente seguidor do modelo oferecido pelos Espíritos à Kardec: Jesus.

      Em vista de tudo isso,  o aprendizado e a reeducação pelas propostas reencanacionistas, estão profundamente vinculadas à Lei de Causa e Efeito, pois há que analisar tudo o que passamos em nossa existência como Efeito, pois as Causas, certamente as desconhecemos. Estão nas vidas anteriores. Mas há os efeitos imediatos, conhecidos, decorrentes de atos praticados nessa mesma existência, e que não são poucos nem difíceis de serem reconhecidos.

         Aprendemos com o Espiritismo os conceitos de expiação, de provas, e entendemos com alguma segurança como se processa a escolha das provas.

        Por Expiação, entendemos por cumprimento de uma pena, uma punição por algo errado quer tenhamos feito. Ela acontecerá em algum momento de nossa existência atual ou futura.

         Por Prova, entendemos no seu verdadeiro sentido: um teste, uma avaliação daquilo que aprendemos com o passar das existências, capacitando-nos para vivências posteriores.

          A Escolha das Provas, somente para os espíritos esclarecidos, conscientes de sua situação no mundo dos espíritos.               Geralmente arrependidos de atos passados e amparados moralmente pelos seus amigos e guias espirituais, escolhem as provas pelas quais supõem que devam suportar.

        A proposição não é válida para o que chamamos de “reencarnação compulsória”, situação que o espírito não está em condições de decidir sobre o que fazer. Os espíritos encarregados dessa atividade coordenam o processo de reencarne. O reencarnante é conduzido, por assim dizer, à sua nova experiência. Sem escolha, como a um filho que encaminhamos para a escola sem perguntar-lhe se é aquela que ele gostaria de ir.

      É bom lembrar, que escolhemos apenas o tipo de provação que necessitamos. Os detalhes, ficam por conta dos acontecimentos normais do dia-a-dia terreno e do livre arbítrio.

        Consciente Allan Kardec de todas essas dificuldades que acompanham o homem em sua trajetória, as mudanças que deveria fazer  em seus hábitos para conseguir seu desiderato, pediu então, aos Espíritos coordenadores de sua tarefa que nos fornecesse um modelo pelo qual pudéssemos nos guiar para enfrentar sabiamente tais dificuldades. A resposta foi simples: JESUS

 

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