O CENTRO ESPÍRITA
Roteiro de palestra desenvolvida no
C. E. Jesus, Maria e José - 08/04/1998
Sander Salles Leite
sander.salles1944@gmail.com
O PRIMEIRO CENTRO ESPÍRITA
Não podemos falar sobre o centro espírita de hoje se não dermos uma pequena olhada no passado: sua origem , seu funcionamento, seus critérios.
Um ano após o lançamento de O Livro dos Espíritos, Kardec já sentia a necessidade de dar vida própria às atividades espíritas, nas quaisl a participação de um grande número de pessoas já afluíam à sua casa.
Nascia em 1º de abril de 1858 a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, obtendo em tempo extremamente rápido o alvará de funcionamento, em 13 de abril de 1858, considerando que a fundação de instituições daquele tipo era naturalmente demorada e difícil a obtenção da licença de funcionamento pela sua própria natureza e conseguir isto, em doze dias, foi uma grande surpresa para Kardec.
Em seu primeiro regimento, a Sociedade permitia o acesso às reuniões apenas pessoas indicadas pelos membros da sociedade com aprovação do presidente; não se admitia, sob hipótese alguma que os participantes tumultuassem a reunião, sob pena de expulsão; cartões eram distribuídos com antecedência para sócios e convidados, mas apenas para aqueles que tinham algum interesse na doutrina ou algum conhecimento.
Tal rigidez, acreditamos, era em função da novidade. Quem não gostaria de assistir à comunicação de espíritos, seja por curiosidade ou até mesmo para contestar?
NO BRASIL
A França era o polo da cultura mundial.
O Brasil, pobre, escravagista, imperialista, basicamente constituído por duas classes: intelectuais ricos e não intelectuais pobres. Os primeiros, todos falavam o francês e estavam sempre atualizados no que havia de melhor na Europa. Até para serem notados e por modismo, faziam tudo o que os franceses faziam. Inclusive o Espiritismo.
Assim, tão logo o brasileiro absorveu as novas ideias da codificação, trouxe-as para o Brasil.
Em 1860, um professor francês radicado no Brasil, Casimiro Lieutaud imprimiu um opúsculo intitulado “Os Tempos são chegados” e Alexandre Canu traduziu a 1ª brochura de Kardec ”O Espiritismo em sua expressão mais simples”.
Em 17 de setembro de 1865, por iniciativa pioneira de Luís Olímpio Teles de Menezes, nascia na Bahia primeiro Centro Espírita do Brasil que se tem conhecimento e destinado a propagar a nova doutrina. Estava criado o GRUPO FAMILIAR DO ESPIRITISMO.
EVOLUÇÃO
As características muito especiais de nossa terra, a imensidão de nosso território, as dificuldades de comunicação, a falta de cultura, fizeram do espiritismo no Brasil uma colcha de retalhos muito distante do que pretendia Kardec.
Até meados de nosso século XX, quase cinqüenta por cento de população era analfabeta. Os núcleos espíritas proliferaram nesse meio sem acesso à leitura, dificultando grandemente o entendimento da doutrina espírita porque não se estudava as obras de Allan Kardec.
Via de regra, onde havia um médium, criava-se um núcleo espírita, orientado quase sempre pelo “guia espiritual”. Misturando-se às crenças de religiões anteriores, principalmente o catolicismo e as seitas africanas, criou-se um “espiritismo- católico-africano”.
Portanto, era muito comum, e ainda hoje vemos retratos dessa fase em centros que se dizem espíritas realizando casamentos e batizados como se fossem católicos; acendendo velas, se utilizando de imagens e incenso como se fossem afros. Isto por não terem tido a oportunidade do saber.
Todas estas expressões doutrinárias distorceram o Espiritismo codificado por Allan Kardec, atrasando por muito tempo a sua marcha.
Mas nosso país é mesmo um paraíso, e tudo se resolve de maneira satisfatória. Povo simples, humilde, se amolda às circunstâncias. Assim, temos instituições que se especializaram nos mais variados segmentos, cujas portas se abriram para a prática espírita: assistência social, porque o país é uma pobreza visível por todas as esquinas com suas crianças nos semáforos pedindo dinheiro ou limpando vidros dos carros, favelas miseráveis à beira de córregos mal cheirosos e infectos, asilos onde idosos são abandonados por familiares, médiuns curadores atendendo milhares de doentes sem dinheiro e sem esperança ou com dinheiro mas sem esperança. Enfim, um farto material de desilusões e desiludidos que acorrem às casas espíritas em busca de uma resposta do porquê o marido é alcoólatra, o filho viciado em drogas, a filha rebelde e coisas mais.
A Doutrina Espírita, ditada pelos Espíritos Superiores, é libertadora.
Libertou-nos desses vínculos materialistas. Fez com nossas almas alçassem vôo mais alto em busca do infinito, apreendendo que através da reencarnação, nos reencontramos em grupos para um saudável recomeçar.
O Centro Espírita mudou. O acesso aos bancos escolares e aos livros provocou o aparecimento de pensadores corajosos que forçaram os “espíritas” a verem o que o centro espírita estava fazendo do espiritismo. E temos um Herculano Pires, professor, pedagogo, filósofo, precursor da Parapsicologia no Brasil, através de seu verbo forte e contundente, mas também amoroso, que tem sido e será a referência para avaliar nossas ações como dirigentes espíritas.
Voltando às origens, o Centro Espírita entendeu que deveria desvencilhar-se de raízes de outras crenças e ser somente Espírita, na verdadeira concepção kardequiana.
Herculano Pires mostra-nos uma imagem pura do verdadeiro centro espírita. O local onde as pessoas se encontram para exercitar a fraternidade, praticar o amor ao próximo, exercitar a caridade dirigida, sem paternalismo. Estudar a Doutrina Espírita em grupos, discutir seus vários aspectos e descobrir como ela pode ser útil para a humanidade. Estudar a mediunidade, exercitá-la sem subserviência a nenhum espírito que se intitule “mentor” ou “guia”. A introdução da criança e do jovem nas atividades do centro espírita enobrece as suas atividades e, como um grande todo, alcançará o fim a que se propõe que é transformação da sociedade e a evolução gradativa do planeta.
O EQUILÍBRIO
Para que o centro espírita cumpra suas funções é necessário que todas as suas atividades estejam pautadas pelo bom senso e pela racionalidade das ações. Como exemplo, um centro espírita voltado somente para a assistência social irrestrita, poderá se esquecer ou executar mal as atividades doutrinárias; determinadas práticas mediúnicas poderão polarizar a atenção de um público que será certamente atraído pelo fenômeno, em detrimento da doutrina.
Em resumo, Centro Espírita moderno é aquele que se atualiza, se comunica, se transforma e se dinamiza para apresentar a Doutrina como ela é àqueles que o procuram.
Ressaltará sempre que somos eternos aprendizes. Que não existem diplomas de médiuns, nem diplomas de passista ou outro qualquer. Que sem a remoção do orgulho, do egoísmo e da vaidade nada seremos porque o verdadeiro espírita é aquele faz do trabalho seu maior aprendizado, bem aquilo afirmado por Kardec: “reconhece-se o verdadeiro espírita pelo esforço que faz em domar suas más inclinaçõe
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